- A todos os que aceitam o desafio de estudar e fazer jornalismo
Entre a noite do dia 23 de Setembro último e a manhã do dia seguinte do mesmo mês, as principais agências internacionais de informação e os mais influentes órgãos de comunicação social mundiais difundiam uma grande “notícia”, segundo a qual o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos da América (EUA), John McCain, iria suspender a sua campanha eleitoral, para se ocupar inteira e integralmente na procura de uma solução à maior crise económico-financeira daquele país, essa que, dada a sua grandeza, acaba se tornando uma crise mundial.
No caso moçambicano, assistiu-se ao seguinte: os media com um carácter imediato, como as rádios e as televisões, deram a “notícia” nos seus espaços mais nobres; os órgãos de informação mediatos, designadamente os impressos, publicaram a “notícia” nas suas edições imediatamente a seguir à ‘extraordinária decisão’ de McCain, que tem como adversário o democrata Barack Obama, qual político exímio em termos de oratória. Demonstra-o mesmo quando nada diz!
Ao publicarem aquela “grande novidade”, os jornalistas e os seus órgãos de informação prestaram, quanto a mim, um péssimo serviço público – mesmo os media privados e/ou independentes dos poderes públicos prestam, em teoria, um serviço público, dado que transmitem informações que “empoderam” as pessoas –, isso porque difundiram, quase todos acriticamente, a propaganda eleitoralista de McCain.
Em boa verdade, McCain nunca suspendeu a sua campanha eleitoral. Tudo quanto fez foi apimentá-la um pouco, para captar o interesse dos profissionais da comunicação social. Ao reportarem esse ‘jogo político’, obviamente que os ‘homens da pena’ deixaram-se manipular, promovendo a imagem de ‘um político comprometido com os reais problemas do seu país e do mundo’.
O que McCain fez assemelha-se a algo que o sindicato dos professores portugueses fez há alguns anos: A meio de uma greve nacional que durou uma semana, os docentes aperceberam-se de que os jornalistas já não os ligavam, dado que diziam as mesmas coisas todos os dias e exibiam os mesmos dísticos; uma das coisas que eles sempre faziam era fazer demonstrações nas redondezas do Ministério da Educação; visando ‘reanimar’ os jornalistas, os professores decidiram ir à praia fazer um sermão aos peixes, uma vez que os decisores e/ou políticos estavam a lhes ignorar.
Um político profissional, como é o caso de McCain, tem bem presente que uma campanha eleitoral é algo nobre, por se tratar do ‘período’ em que os partidos e seus candidatos se apresentam aos eleitores, em busca de votos, sem os quais não podem alcançar o seu objectivo número um: alcançar, manter e exercer o poder.
É durante as campanhas eleitorais que os candidatos a isto e aquilo têm a soberba oportunidade de se promover, de se fazer conhecer, com vista à angariação de simpatias que, no fim do dia, devem se traduzir em votos expressos e válidos a seu favor. Com a ‘suspensão’ da sua campanha, McCain fez valer o seu slogan: “Country First – Primeiro o País”. Assim agindo, “mostrou” estar mais preocupado com os problemas do país e não com a sua corrida à “Casa Branca”.
Domesticamente, já ouvimos bastas vezes Afonso Dhlakama a afirmar, em sede de campanha eleitoral, que ‘sou o candidato mais bonito’, ‘Guebuza é miúdo’, ‘Guebuza precisa de 15 anos para atingir o meu nível’, etc; Miguel Mabote nos ‘delicia’ com a sua ideia de premência de (re)introdução, no país, da pena de morte, não se concentrando em questões como promoção de emprego, salário mínimo ‘justo’, melhoria do ambiente de negócios, e por ai em diante; se assim agisse, julgo que estaria a mostrar porquê se diz trabalhista…
Nalguns países, Moçambique incluso, os políticos estão sempre em campanha, usando, inclusive, recursos públicos. Não é, pois, por acaso, que Armando Guebuza, Presidente da República e presidente do partido Frelimo, está a ter, este ano, a mais demorada “Presidência Aberta”. A explicação é simples: criar ‘proximidade’ com as eleições autárquicas aprazadas para 19 de Novembro próximo. Aliás, a história não nos deixa inventar nada, muito menos mentir: a ideia de “Presidência Aberta” é uma criação de John Kennedy, que as denominava de “New Fronteiers”, com o que pretendia ‘ganhar simpatias’ do eleitorado norte-americano.
Dentro de dias, veremos, por cá, ‘supermercados’ inacabados a serem ‘inaugurados’; veremos edifícios inaugurados há mais de 100 anos a serem ‘inaugurados’; veremos cada vez mais ‘notícias’ sobre os homens armados; conheceremos a “verdadeira face” de Daviz Simango”, e por ai além.
Não se enganou Lula da Silva, presidente do Brasil, quando certa vez disse que ‘notícia é tudo aquilo que nós, políticos, não queremos que seja publicado; o resto é propaganda política”.
Tuesday, October 7, 2008
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