Wednesday, September 17, 2008

INSS e AIG

Entre finais de Maio e princípios de Junho deste ano, vários órgãos de comunicação social noticiaram que o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) estava a saque, citando um relatório de uma comissão de inquérito que fora criada internamente, para investigar as denúncias que tinham sido apresentadas à ministra do Trabalho, Helena Taipo, em Agosto do ano passado.

A imprensa fez saber que a gestão danosa, aparentemente por dolo, que se regista no INSS há cinco anos, resultou no roubo de mais de 10 milhões de dólares norte-americanos daquela instituição pública, qual “fiel depositária” dos valores que muitos de nós, trabalhadores, descontamos para a reforma, agora “hipotecada”.

Conforme foi explicado pelos media quando deram a conhecer o saque ao INSS, o dinheiro dos contribuintes foi retirado através de:

Sobrefacturações;
Pagamento a empresas sem que tivessem prestado algum serviço;
Forjamento de trabalhos complementares e consequentes pagamentos adicionais;
Cobrança de comissões no processo de adjudicação de obras;
Nepotismo no processo de adjudicação de obras;
Contratação ilícita de empresas e por ai além.

Um pouco ao ritmo do país, que parece estar a correr sem direcção, em respeito escrupuloso e acrítico às ordens e orientações do “capitão-mor”, a Primeira-Ministra, Luísa Diogo, apressou-se a vir a público com enviesamentos forçados, tendo anunciado a realização de uma auditoria independente. De lá até aqui nada transpirou, passando hoje pouco mais de três meses.

Um dos cidadãos a quem coube “gerir” o INSS em parte do período abrangido pelo inquérito que constatou o saque dos valores acima referidos, viu-se vilipendiado e difamado por Helena Taipo e sua equipa, tendo, por isso, decidido em distribuir uma missiva da sua lavra à imprensa, dando a sua versão dos factos.

Das terras do “Tio Sam” foram, a partir desta semana, distribuídas notícias de que a American International Group (AIG), a maior seguradora privada do mundo, estava já em consumada falência técnica, o que, certamente, pode ter sido o ápice do mau desempenho que aquela multinacional vinha tendo desde os princípios do ano passado.

Ainda esta semana, a Reserva Federal, que é o Banco Central dos Estados Unidos da América (EUA), anunciou que iria emprestar 85 biliões de dólares à AIG, visando evitar a falência daquela gigante seguradora: com isso, Federal Reserve Bank passava a controlar 79.9% da firma.

A AIG opera em vários pontos do mundo, cuidando das finanças de milhares de empresas e de milhões de cidadãos, isso em três áreas específicas, nomeadamente estabelecimento de contratos de seguros, gestão de risco e gestão patrimonial.

Em que aspecto poderá existir algum “paralelismo” entre as actividades do INSS e da AIG?

Existirá, achamos nós, algum “paralelismo” no facto de ambas as organizações, obviamente com dimensões não comparáveis, por serem de dimensões excessivamente diferentes, cuidarem das poupanças de milhares de almas. Em países pobres como Moçambique, tem sido prática ser o próprio Estado, mesmo que não o faça de uma forma exclusiva, a cuidar da segurança social dos trabalhadores, enquanto que, em países desenvolvidos, isso é da competência do sector privado.

O Fed, o Banco Central dos EUA, agiu como um verdadeiro consultor financeiro do governo, evitando o precipício. Obviamente que não tem, nem tem como ter, a mesma sensibilidade com outras firmas, bancos inclusos, que estejam numa situação similar à da AIG. Aliás, dois dias antes de se anunciar o bilionário empréstimo à maior seguradora do mundo, o Federal Reserve Bank recusou fazer o mesmo para com o “Lehman Brothers”, o quarto maior banco daquele país, que está em falência.

Nós, por cá, vamos fingindo que está tudo bem. Enquanto que uns, mesmo estando a solo, são “confirmados” candidatos a isto e aquilo, outros vão mostrando, aos que ainda tivessem dúvidas, que algumas das organizações que se acham partidos políticos em Moçambique não o são em rigor, uma vez que, para o serem, não basta que os seus mentores arrumem seus uniformes militares em malas ou sacolas, mas mantendo a veia e sangue militaristas.

O futuro que coube há meses à “Oliveiras Transportes e Turismo” evidencia aqui na “Varanda do Índico” os “donos da caneta” ainda não querem crer que o Estado existe, em parte, para corrigir as imperfeições do mercado. Muitos, nós inclusos, estão ansiosos em ver se os resultados da auditoria independente prometida por Luísa Diogo não serão apenas tornados públicos no dia em que o morcego começar a doar sangue, como diria o outro.

O certo é que, numa situação em que um pequeno grupo está preocupado por tudo – gerir, vender onde gerem, controlar, nomear gestores, dar-lhes ordens para pagar as suas contas, retirar dinheiro para abrirem bancos privados e por ai além – a grande maioria fica a ver navios, infelizmente mesmo na gestão do que é-lhes mensalmente descontado para “reforma” que, talvez, é sinónimo de “black empowerment” à moçambicana.

5 comments:

Egidio Vaz said...

bem vidno Salema. estamos juntos. Lerei com mais atenção o seu texto porque vou ja anuncia a sua chegada no meu blog.
Abraços.
Egidio

Fatima Mimbire, jornalista said...

Oi Salema. Parabens pelo teu artigo, se calhar diria, pela tua reflexao.
O pais anda mesmo mal. Eu fui uma das pessoas que esteve presente da Conferencia de imprensa que anunciava os resultados da "investigacao" feita pela comissao do MITRAB. Na ocasiao eu questionei o saque detectado durava ha quanto tempo. A resposta que obtive foi que a "investigacao" verificou que o rombo vem desde 2002, altura em que o INSS estava sob gestao da Presidente do CMCM, Elina Gomes.
Eu insisti perguntando porque a tal senhora nao era arolada no tal relatorio. A resposta foi porque nao podemos investigar problemas de um outro mandato. Estranho nao 'e? Num pais que se quer serio, todas as questoes "descobertas" da investigacao devem ser consideradas, uma vez que depois o processo conhecera outreos tramites para uma investigacao mais apurada, neste caso na Procuradoria da Republica. Alias, este caso deu entrada nesta ultima instituicao no ano passado (2007) mas no informe do Procurador nao foi sequer mensionado.
O mais curioso ainda e que segundo a comissao de inquerito apenas o antigo director e o chefe do departamento de informatica estao a ser investigados pela PIC, quando o Chefe da reparticao do depatrimonto da instituicao, Dulcidio Loforte, considerado responsavel pelas infraccoes deste a altura da antiga direccao, apenas carrega um processo disciplinar na empresa, que podera resultar na sua expulsao.
Sera que realmente havia interesse de investigar o rombo no INSS ou fazer vitimas por razoes que so o 'Omnipotente" sabe.
Caros colegas jornalistas, esta nas nossas maos a oportunidade de provar se o que para nos importa 'e o interesse publico ou de alguns. Nos tambem somos parte do interesse publico.
Lembrar que "quando omitimos a verdade hipotecamos o futuro dos nossos filhos" como diz um colega meu, muito inteligente por sinal!
Boa sorte a todos e VIVA A VERDADE

aminhavozz said...

Bem vindo ao clube Salema. Já estavamos a espera de ti há muito tempo. Bem vindo mesmo. E ...corajem!

MANUEL DE ARAÚJO said...

Parabens Ericino! So faltavas tu na blogsfera! Seja bem vindo! Tambem acabei sabendo que o Egidio Vaz ja voltou a blogar! O que e optimo! Forca juventude! Temos que usar no maximo esta liberdade de opiniao e de expressao pois muitos jovens tiveram que dar suas vidas para que a tivessemos!

Um abraco das terras da rainha,

Araujo

mãos said...

Vi algures a palavra Phambeni...creio que servia de fecho a um texto num jornal...

Por isso PHAMBENI SALEMA...

Ouri Pota