A Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) lançou, sexta-feira última, dia 27 de Fevereiro, o relatório anual do seu Departamento de Estado sobre Direitos Humanos em Moçambique. No dia seguinte, sábado, adquiri uma cópia do diário Notícias, na esperança de que veria algo sobre a publicação dos irmãos da terra do “Tio Sam”, em forma de notícia, reportagem ou artigo de análise, mas nada; coisa normal esta, atendendo e considerando que os jornais não são elásticos, ao que se acresce o facto de cada jornal ter os seus critérios de noticiabilidade.
Guiado por esse espírito de inelasticidade dos jornais, esperava, quando percorria as páginas do mais antigo diário moçambicano desta segunda-feira, 2 de Março, ver algo sobre aquele relatório, ao qual ainda não tive acesso, tendo em conta o carácter ‘universal’ da noticiabilidade de certos factos. E não estava enganado! Lá vi uma notícia sobre o documento, mas em moldes diferentes daqueles em que os manuais de jornalismo recomendam.
Para ser mais directo: vi, na página três do Jornal Notícias de hoje, a reacção da ministra da Justiça, Benvinda Levy, e não matéria a explicar, em sinopse ou não, o que diz o relatório dos EUA sobre Direitos Humanos em Moçambique. “Justiça e Direitos Humanos com avanços e retrocessos”, titula o Notícias, para, em subtítulo, escrever: “considera Benvinda Levy, reagindo ao relatório do Departamento de Estado norte-americano”.
Que inovação jornalística é esta, caros compatriotas, que, em desabono da mentira, nem é assim tão nova nas páginas do mesmo título, particularmente quando o assunto são críticas ao desempenho do dia? Que será dos que somente lêem o Notícias? Terão razão os que dizem que o Notícias é um jornal governamental? Que será de nós no dia em que o domingo se antecipar ao sábado?
Ainda na manhã desta segunda-feira, enquanto caminhava ao meu local de trabalho, ouvi, no “Café da Manhã”, da Rádio Moçambique (RM), o mano Emílio Manhique a “entrevistar” a ministra da Justiça. Logo a começar a conversa, Manhique foi buscar um trecho aparentemente incómodo, para depois pedir a reacção da “convidada”. Fê-lo como se já soubesse qual é a opinião da ministra sobre o documento, indo directamente às questões específicas. Recebeu algum guião, comrade Manhique?
Quando um governo se desdobra em reacções e/ou desmentidos, usando e abusando do seu poder sobre alguns espaços mediáticos, costuma a ser um forte indício de que pode haver muito de verídico no que se procura “aclarar”…
Ou estaremos em presença de uma nova especialidade jornalística?
Monday, March 2, 2009
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4 comments:
Oi mano...
Com muita razão....li suas inquietações concordando em tudo..
Mais ainda, achei meio absurdo que fosse a própria ministra a ir desmentir o relatório, baseando-se nos argumentos antes apresentados por Paul Fauvet!
Na verdade, o Direito Internacional, permite que cada Estado monitore o outro na matéria dos DH. Alias, no ano passado os americanos foram reportados pela China.
Posso te garantir que este relatorio nao significa ingerencia aos assuntos internos, porque direitos humanos sao um assunto universal.
oi salema!
bastante pertinente sua pergunta(indignacao).há uma tendencia quase generalisada dos medias que referiste se ser de us conveniente do pder o que é de lamentar.alguns até uma capacidade jornalistica invejavel, mas a esperanca de um dia subir s transforma em serventes.É claro que tambem quem assim procede por mera ignorancia.luis_mazoio@yahoo.com
Salema, acertas sempre quando entras por essa porta. Estou acabando por acreditar que na verdade, está a surgir uma nova especialidade de jornalismo, que já agora aproveito a oportunidade de o apelidá-lo por "Jornalismo Responsável". Sim, eles assim se auto-intitulam, que fazem um jornalismo responsável, quando sempre vêm o lado positivo do problema. Problemas que já é e clama por uma solução, eles dirão que “estamos a dar passos rumo a concretização dos objectivos preconizados no Plano Económico e Social do Governo, Plano Quinquenal do Governo, PARPA, ODM e muitos outros. E, no caso dos Direitos Humanos, está claro que o Governo está no bom caminho e o relatório apenas está para tolher com a nossa soberania. E os jornalistas responsáveis já escreveram isso faz já anos. Abraço à sua solidão.
Caros Duma, Mazoio e Egidio: Acho que estamos mesmo mal. E sinto-me parte destas escandaleiras todas, na esteira das minhas ligacoes profissionais com o mundo dos media. Espero postar, para a semana, algo mais detalhado sobre o Jornalismo Mocambicano na actualidade. Cumprimentos
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